Por Todd Benson
SAO PAULO (Reuters) - Autoridades financeiras dos principais países emergentes iniciam em São Paulo nesta sexta-feira uma reunião do G20 que pode ajudar a desenhar as bases para uma revisão do sistema financeiro global que dê mais voz aos países em desenvolvimento.
Com os Estados Unidos e a Europa cambaleando em meio à crise financeira mundial, as robustas economias emergentes, como o chamado Bric --que reúne Brasil, Rússia, Índia e China--, querem ter um papel mais importante no cenário mundial.
Mas os interesses diversos desses países podem dificultar a obtenção de um consenso sobre como melhor regular os mercados financeiros e redefinir organismos mundiais como o G8 --grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia.
Os ministros das Finanças e as autoridades dos bancos centrais procurarão, nos três dias de reuniões do G20 em São Paulo, dar sequência à cúpula do fórum Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que terminou na quinta-feira no Peru pedindo uma ação coordenada para estimular os mercados de capital.
Qualquer progresso feito no encontro do G20 e na reunião do Banco de Compensações Internacionais (BIS) na segunda-feira, também em São Paulo, servirá como um rascunho para uma cúpula do G20 em Washington em 14 e 15 de novembro, que está sendo vista como uma chance de se redesenhar a arquitetura financeira global.
"As expectativas para (a reunião de) São Paulo são altas", disse John Kirton, diretor do Grupo de Pesquisa do G20 da Universidade de Toronto. "Mas a reunião de Washington veio tão rapidamente que mesmo que houvesse uma posição comum dos Brics, o que não é óbvio que há, eles não tiveram tempo para discutir e saber qual ela é."
Como anfitrião do encontro do G20, o Brasil enfrenta a pressão para aproveitar a oportunidade para impulsionar sua imagem de emergente potência mundial e alcançar um consenso entre os países participantes que possa ser levado a Washington.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que irá levar uma série de propostas ao encontro. A primeira será fortalecer o G20, para que ele tenha um papel mais ativo em instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Ele também quer uma expansão do G8 para incluir países emergentes e pedirá às nações do G20 que aumentem seus gastos fiscais para estimular o crescimento.
"Nós temos que tomar cuidado e evitar que a saída (para a desaceleração provocada pela crise) seja de nacionalismo, de fechamento do país", disse Mantega em entrevista à Reuters.
DE OLHO NA CHINA
Embora o Brasil queira ganhar liderança, qualquer esforço coordenado para retomar a normalidade dos mercados dependerá da China, que tem extraordinárias reservas internacionais de 2 trilhões de dólares.
"Todos os olhares invevitavelmente estarão sobre a China", disse Kirton. "Ela tem todo o dinheiro do qual o mundo precisa. Se a China vai usar esse dinheiro para um resgate e como ela o usaria... é a principal questão pendente."
A China sempre adotou uma postura discreta em questões internacionais, preferindo focar-se em assuntos internos, mas alguns analistas dizem que dado o atual momento, o país pode não ter mais como evitar os pedidos para adotar uma maior responsabilidade.
Na reunião da Apec no Peru, o vice-ministro das Finanças da China, Li Yong, disse que seu país está pronto para juntar-se a outros países e ao FMI para ajudar a estabilizar os mercados financeiros, mas não deu mais detalhes de como faria isso.
A Rússia é a incógnita entre os Brics. Como membro do G8 que está focado em retomar seu status como potência mundial, a Rússia tem poucos incentivos, segundo analistas, para apoiar os pedidos pela expansão do G8.
O presidente russo, Dmitry Medvedev, afirmou em discurso nesta semana que Moscou pedirá que o G20 busque mais poderes e capital para as instituições financeiras já existentes.
(Reportagem adicional de Isabel Versiani e Daniela Machado, em São Paulo, Alan Wheatley, em Pequim, Charlotte Cooper, em Mumbai, e Gleb Bryanski, em Moscou)
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