BRASÍLIA, 1o (Reuters) - A coordenação política do governo avaliou nesta quarta-feira que não há no horizonte nenhum indicativo de que a crise financeira global possa abater o Brasil, mas já admite que ela pode chegar à economia real do país.
As informações foram dadas nesta quarta-feira por uma fonte do Planalto sob condição de anonimato. Mais cedo, um ministro revelou à Reuters que, preocupado com os desdobramentos da situação internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recomendou à equipe econômica esforço "para não faltar crédito no país."
A recomendação de Lula foi confirmada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que assegurou que "não faltará crédito nem para o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), nem para os investimentos de uma maneira geral."
A avaliação do governo é de que a crise chegará ao Brasil se reduzir a atividade econômica e comprometer o setor agrícola e de exportação. Os ministérios da Fazenda e do Planejamento já analisam uma série de alternativas para reforçar linhas de crédito destinadas a financiar as exportações brasileiras, entre elas o uso do FGTS. O BNDES também pode ser usado como reforço a este fim, disse outra fonte palaciana.
Lula descartou um "pacote" formal de medidas para proteger o Brasil. Desde a véspera--durante encontro com o colega venezuelano, Hugo Chávez--,ele resolveu abrandar nos adjetivos e baixar o tom de suas críticas à crise nos EUA.
"Não se pode tratar a crise com desdém, mas não se pode assumir uma coisa que não é nossa", disse o ministro. "Tem a doença, não estamos gripados, mas não significa que não vamos pegar a gripe," avaliou o ministro sobre a ameaça de contágio.
Segundo relato de dois representantes do governo, um deles com cadeira na coordenação política, Mantega afirmou na reunião que a crise "existe, é preocupante, mas que ainda não é problema para o Brasil". Na mesma ocasião, Mantega teria afirmado que os investimentos estrangeiros diretos ficaram em torno de 4 bilhões de dólares em setembro e que as reservas internacionais do país continuam "intactas."
O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, negou nesta quarta-feira que esteja planejando qualquer mudança na proposta orçamentária, em um momento de aprofundamento da crise global de crédito.
"Até agora não aconteceu nada de relevante na economia brasileira e nós achamos que se acontecer alguma coisa na economia brasileira, a função do governo é de trabalhar para minimizar os efeitos e nós não sabemos se vai ter efeito", disse o ministro a jornalistas, na sede do ministério.
"O BC olha periodicamente a situação do sistema financeiro e havendo a necessidade ele adapta alguma medida e é isso que vai continuar acontecendo".
Um outro ministro com assento no Planalto afirmou que o governo tem até o fim de dezembro, quando o Congresso vota o orçamento, para fazer qualquer alteração na proposta, caso necessário.
Na avaliação do Executivo, há tempo para discutir não só mudanças nas previsões, como também avaliar se há algum arrefecimento da crise internacional até lá.
O Orçamento Geral da União para 2009 foi elaborado levando em conta o cenário econômico de março e abril deste ano, com o dólar na casa do 1,71 real e previsão de crescimento de 4,5 por cento. Já há estimativas de mercado que apontam para uma evolução bem mais tímida do PIB. O dólar, na mesma linha, fechou em alta de 1 por cento nesta quarta-feira, a 1,925 real.
Após derrotar na segunda-feira passada a primeira versão de um pacote de ajuda ao setor financeiro, o Congresso dos Estados Unidos marcou para esta noite a votação de uma segunda versão.
(Reportagem adicional de Ana Nicolaci da Costa e Isabel Versiani)
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