Pages

terça-feira, 19 de maio de 2009

Perdigão assume Sadia e busca expansão no exterior


Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A Perdigão assumiu sua rival Sadia em um negócio feito inteiramente em troca de ações, criando a Brasil Foods, empresa com faturamento anual superior a 20 bilhões de reais que pretende focar principalmente o mercado externo para sua expansão.

O negócio, que ocorre após várias semanas de negociações entre as duas empresas, deixará os acionistas da Perdigão com 68 por cento da Brasil Foods, enquanto os acionistas da Sadia ficam com 32 por cento.

A nova companhia deverá realizar uma oferta pública de ações em meados de julho para levantar 4 bilhões de reais, dinheiro que deverá, em parte, ser utilizado para saldar dívidas de curto prazo que possuem custo elevado.

A união das empresas, que já esteve perto de ocorrer outras vezes no passado, se desenhou a partir dos graves problemas financeiros da Sadia, que perdeu bilhões de reais em operações com derivativos cambiais depois que a crise econômica global mudou a direção da moeda brasileira no ano passado.

O real, que até então registrava forte valorização contra o dólar, passou a cair e fez com que as apostas da Sadia no mercado de câmbio gerassem perdas volumosas.

Sadia e Perdigão chegaram a trabalhar juntas no início da década na Brazilian Foods, uma associação para as vendas no mercado externo que não vingou.

Em 2005, a Sadia, então maior, lançou oferta hostil pela Perdigão, que a rejeitou.

Desde então, a Perdigão se expandiu, comprou concorrentes menores e avançou em lácteos, com a incorporação da Eleva e da Batavo, diversificando negócios e ganhando tamanho.

"Começamos a conversar sobre uma união há 10 anos, mas vocês têm que imaginar que uma associação desse porte é difícil e tem muitos aspectos a serem discutidos", afirmou a jornalistas Nildemar Secches, presidente do conselho da Perdigão e agora co-presidente do conselho da Brasil Foods, ao lado de Luiz Fernando Furlan, da Sadia.

"Provavelmente no curto prazo essa empresa se tornará o maior exportador de carne processada do mundo", disse Furlan no evento organizado para apresentar a nova companhia.

Como já haviam subido bastante nas últimas semanas, as ações das empresas apresentavam baixas após o anúncio do acordo. Por volta das 14h10, os papéis da Sadia caíam 1,9 por cento e os da Perdigão perdiam 4,2 por cento.

CRESCER FORA

A empresa resultante do negócio terá uma presença muito forte no varejo brasileiro. Juntas, Sadia e Perdigão dominam mais de 55 por cento do mercado de industrializados de carne e margarinas, e possuem parcelas ainda maiores em itens como massas prontas.

Assim, o negócio depende da aprovação dos órgãos de defesa da concorrência no Brasil.

Mas é no mercado externo que a Brasil Foods deve focar sua expansão, pelo que disseram Furlan e Secches em São Paulo.

"Queremos oferecer produtos de qualidade a preços acessíveis em todos os lugares do mundo. Essa é a missão e a responsabilidade", afirmou o representante da Perdigão, acrescentando que a Brasil Foods buscará ampliar o número de mil clientes ativos no exterior atualmente.

A Brasil Foods deverá exportar 42 por cento de sua produção total. A companhia tem capacidade instalada de abater 1,7 bilhão de aves por ano e 10 milhões de suínos. Será responsável por quase a metade das exportações de carne de frango do Brasil, o maior exportador mundial com cerca de 40 por cento do mercado global.

Furlan acredita que a empresa terá capacidade de elevar no curto prazo seu faturamento para cerca de 30 bilhões de reais e afirmou que não vê sobreposições nas unidades industriais no Brasil. "Não há previsão de demissão no chão da fábrica", acrescentou.

Dispensas, no entanto, poderão ocorrer nas áreas não industriais, já que as companhias atuam nos mesmos mercados e possuem estruturas parecidas.

Secches ressaltou o aspecto de a produção de proteína animal ser altamente competitiva no Brasil, o que vai gerar condições para a empresa, agora mais robusta, ganhar mercado fora do país.

PROCESSO COMPLICADO

A união das companhias se dará por meio de uma complexa operação societária, com a criação de uma outra entidade, a HFF Participações.

Para o negócio se concretizar, os detentores de pelo menos 51 por cento das ações ordinárias da Sadia deverão repassar os papéis com direito a voto que detêm para a HFF.

Ao mesmo tempo, a Perdigão terá sua denominação alterada para Brasil Foods, que posteriormente vai incorporar as ações da HFF. A relação de troca, nesse caso, será de 0,166247 ação de emissão da Brasil Foods por cada ação ordinária da HFF.

A incorporação de ações da HFF pela Brasil Foods está condicionada à alienação, pela Sadia, da Concórdia Holding Financeira, que controla banco e corretora de mesmo nome, para outra sociedade de participações.

O comunicado declara ainda que a condição final para a associação é a comprovação, pela HFF, de que é detentora de mais de 51 por cento das ações ordinárias da Sadia.

As ações da Sadia em circulação no mercado serão, depois disso, incorporadas pela Brasil Foods. A relação de troca para os minoritários será de 0,132998 ação ordinária da Brasil Foods por cada ação ordinária ou preferencial da Sadia, equivalente a 80 por cento do valor atribuído aos controladores da empresa, como determinam as regras da Comissão de Valores Mobiliários em caso de alienação de controle.

Conforme as empresas, as ações da Brasil Foods continuarão a ser negociadas no Novo Mercado, ambiente da Bovespa que exige maior grau de governança corporativa e em que hoje está listada a Perdigão.

As empresas informaram que o acordo de associação pode ser rescindido no prazo de 15 dias se as condições incluídas no documento não forem cumpridas.

(Reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr., Cesar Bianconi e Guillermo Parra-Bernal)

0 comentários: