Por Philip Pullella
JERUSALÉM (Reuters) - Em visita a um memorial israelense aos 6 milhões de judeus mortos pela Alemanha nazista, o papa Bento 16 disse na segunda-feira que o sofrimento deles não deve ser negado nunca.
A mensagem era dirigida à irritação da comunidade judaica com relação ao bispo britânico Richard Williamson que negou o Holocausto.
No memorial de Yad Vashem, o papa de origem alemã disse ter vindo para honrar a memória dos judeus mortos na "horrível tragédia da Shoah", o termo hebraico para o Holocausto, ao qual chamou de atrocidade que desonrou a humanidade.
"Que os nomes dessas vítimas nunca pereçam. Que o sofrimento deles nunca seja negado, menosprezado ou esquecido", disse ele, como se estivesse orando.
O presidente do conselho de Yad Vashem, o rabino israelense Meir Lau, lamentou que o papa não tenha sido mais explícito.
"Certamente não houve desculpas expressadas aqui", afirmou ele. Não houve "expressão de empatia com o sofrimento".
O papa fez um discurso comovente, disse Lau, mas "ficou faltando alguma coisa. Não houve menção aos alemães ou nazistas que participaram da carnificina nem uma palavra de pesar".
Os comentários do papa ecoaram declarações feitas por ele em fevereiro sobre a polêmica de Williamson, nas quais disse a líderes judeus que "qualquer negação ou minimização desse crime terrível é intolerável".
Depois que o Segundo Conselho do Vaticano repudiou o conceito de culpa coletiva dos judeus pela morte de Cristo, há 45 anos, as relações têm sido assombradas pelo Holocausto e a questão sobre o que a Igreja fez, ou deixou de fazer, sobre isso.
Elas chegaram ao seu pior nível em janeiro, depois que o papa suspendeu a excomunhão de quatro bispos tradicionalistas, incluindo Williamson, que negou que 6 milhões de judeus tenham sido mortos.
O Vaticano disse não saber o suficiente sobre o passado do bispo britânico, e a igreja e líderes religiosos judeus esperavam que o assunto fosse encerrado com a visita ao Yad Vashem.
Antes que Williamson e outros bispos possam ser completamente readmitidos à Igreja, afirmou a Santa Sé, eles precisam aceitar os ensinamentos do Segundo Conselho do Vaticano, de 1962-1965, que exigiu respeito às outras religiões.
Em sua chegada um pouco mais cedo na segunda-feira, o pontífice sublinhou as diferenças políticas entre o Vaticano e o governo de tendência direitista de Israel ao expressar apoio a um Estado palestino.
JUVENTUDE HITLERISTA
Saudando o pontífice, o presidente de Israel, Shimon Peres, disse: "Os líderes espirituais podem abrir o caminho para os líderes políticos. Eles podem limpar os campos minados que obstroem a estrada para a paz".
"Os laços de reconciliação e entendimento estão agora sendo costurados entre a Santa Sé e o povo judeu", acrescentou Peres. "Nossa porta está aberta a iniciativas similares com o mundo muçulmano."
O entusiasmo entre os israelenses, no entanto, era pouco. Nascido na Bavária em 1927 como Joseph Ratzinger, o papa Bento 16 integrou a Juventude Hitlerista quando o alistamento era obrigatório.
Os biógrafos do pontífice dizem que ele nunca foi membro do partido nazista e sua família se opôs ao regime de Adolf Hitler.
Reiterando a política do Vaticano, ele também pediu por uma "resolução justa" para o conflito entre israelenses e palestinos "para que ambos os povos possam viver em paz em uma pátria própria, dentro de fronteiras seguras e internacionalmente reconhecidas".
Desde que assumiu como primeiro-ministro de Israel, em 31 de março, Benjamin Netanyahu não endossou a criação de um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, prioridade norte-americana e árabe.
0 comentários:
Postar um comentário